Receita de Pão de Cacau com chocolate meio amargo

Desde que comecei a fazer pães, principalmente os de fermentação natural, sempre tive vontade de experimentar novas receitas e diferentes sabores. Dessa vez, depois de passar um mês inteiro dedicado aos panetones e chocotones, tive vontade de fazer um Pão Sourdough de Cacau. Sempre tive curiosidade de saber como seria o sabor final do azedinho do pão com o meio amargo do chocolate. Teste feito, posso garantir: o resultado é surpreendente.

Pesquisei diversas receitas na internet, muitas delas bem parecidas, mas como sou abusado, resolvi fazer uma livre adaptação das receitas da Aline Galle, que ela generosamente compartilha com os participantes do grupo Levain, no Facebook, e da receita do Amo Pão Caseiro, curso de panificação online.

Aqui vai a minha versão:

Receita de Pão com cacau e chocolate meio amargo

INGREDIENTES

  • 400g de farinha de trigo branca (nesta receita eu usei a farinha tipo 00 Lievitati, da Le Sinfonie)
  • 280g de água gelada (acrescente a águia aos poucos, começando com 250g e vá acrescentando o restante durante a sova, se sua farinha aguentar essa porcentagem de hidratação).
  • 30g de cacau em pó 100% (eu usei 50%, opção que eu tinha em casa)
  • 120g de levain (já refrescado e forte!)
  • 8g de sal
  • 20g de açúcar mascavo
  • 1 colher (de sopa) de mel
  • 150g de gotas de chocolate meio-amargo

PREPARO DA MASSA

Passo 1 – Autólise
Autólise é o método desenvolvido por Raymond Calvel, em 1974, em que água e farinha são misturadas e colocadas para repousar, iniciando o desenvolvimento da rede de glúten.
Numa tigela, misture bem a farinha de trigo branca (de preferência uma farinha forte), o cacau em pó, o acúcar mascavo (diluído) e parte da água gelada (use 250g e reserve 30g de água para a segunda hidratação da massa, durante a sova. Use esse restinho de água apenas se perceber que sua farinha aguentará absorver mais água). Deixe a massa descansar por 1h30 na geladeira, na tigela coberta com filme plástico. Se preferir, coloque a massa dentro de um saquinho plástico descartável. A massa deve estar fria para evitar que esquente demais durante a sova na batedeira.

Passo 2 – Sovar
Depois do descanso, você perceberá que a massa está mais elástica, graças à ação do glúten que começou a se desenvolver. Chegou a hora de colocar a mão na massa. Essa etapa pode ser feita de duas formas: à mão ou com a santa ajuda de uma batedeira planetária com gancho. Dos dois jeitos dará certo, variando apenas o tempo.

Se escolher sovar à mão, não se preocupe em usar muita força. Existem algumas técnicas, como a “slap and fold”, que não exigem tanto músculo, apenas jeito e prática. Seus braços vão agradecer.

Acrescente o levain à massa, misture bem com as mãos e comece a bater a massa sobre a superfície em que está trabalhando e a dobrá-la sobre ela mesma, repetidas vezes, por 5 minutos. Comece a sentir sua massa, se está muito mole, talvez não precise acrescentar os restante da água gelada que você deixou reservada. Use apenas se sua farinha for forte ou se sua massa ainda estiver muito grudenta. Acrescente o mel. Sove por mais 5 minutos e então acrescente o sal. Misture bem a massa e sove até completar 15 minutos. A massa ficará mais lisa e acetinada à medida que for se aproximando do “ponto de véu”.

Se escolheu sovar com a ajuda da batedeira planetária, acrescente o levain e comece a incorporá-lo à massa na velocidade 2 (ou se sua batedeira aguentar o tranco, na velocidade 1) por 3 minutos. Acrescente a água, sove por mais 3 minutos na velocidade 2, tomando cuidado para não espirrar toda água pra fora da tigela. Acrescente o mel, bata um pouco mais para incorporá-lo à massa e, então, acrescente o sal, batendo por mais alguns minutos, começando pela velocidade 3 até finalizar com a velocidade 4. Você deve começar a ouvir um barulho de “pneu furado” nos minutos finais, enquanto a massa bate nas laterais da tigela. Isso é um ótimo sinal! A massa começa a “encordar” no gancho e a desgrudar-se totalmente das laterais da tigela da sua planetária.

O tempo total de sova pode variar de 10 a 15 minutos. Esse tempo muda de acordo com a temperatura do ambiente, quantidade de água e qualidade da farinha. Você deve perceber que a massa atingiu um “ponto de véu” (quando você começa a esticar a massa com as mãos, ela não se rasga).

Depois de sovar, deixe a massa descansar na tigela, coberta por um pano úmido ou filme plástico para não ressecar, por 2 horas. Sim, esse tempo é importante para primeira fermentação em temperatura ambiente. É dentro dessas 2 horas que faremos as dobras na massa.

Ah, se você já experimentou os pães sem sova e gostou do resultado, pode experimentar nessa versão com chocolate. Misture todos os ingredientes da receita na autólise e, ao invés de sovar, passe para as dobras.

Passo 3 – Dobras e primeira fermentação
Após os primeiros 30 minutos de descanso começaremos a fazer dobras na massa, de meia e meia hora, por 2 horas (total de 4 dobras). Essa etapa é importante no processo de fermentação pois, quando esticamos e dobramos a massa, estamos trabalhando e fortalecendo o glúten.

Na tigela (você também pode usar uma caixa de plástico), pegue um lado da massa, estique e dobre sobre ela mesma, até alcançar o outro lado. Repita isso nos 3 outros lados. Deixe descansar por 30 minutos e volte a repetir o mesmo movimento, mais 3 vezes, com intervalos de 30 minutos. Depois da última dobra, deixe descansar por mais 30 minutos.

Acrescente as gotas de chocolate meio amargo durante as dobras, para distribuir melhor o ingrediente pela massa.

Se o dia estiver quente, costumo fazer a descanso entre as dobras na geladeira. A melhor temperatura para a massa é entre 25 e 28 graus. Mas você só conseguirá medir isso com um termômetro de cozinha. Faça testes para ver qual resultado é o melhor pra você.

Passo 4 – Pre-shape ou pré-moldagem
Meia hora depois da última dobra, nessa etapa sua massa começa a se preparar para o formato final em que fará a segunda fermentação, antes de ir pra panela. Abra a massa delicadamente com as mãos e puxe as laterais para o centro, unindo e apertando as pontas. Vire o lado da “costura” para baixo, boleie a massa para deixá-la mais redonda e deixe descansar por mais 30 minutos, coberta pelo bowl.

Passo 5 – Shape ou moldagem final
Já decidiu qual formato quer fazer nesse pão? Redondo, retangular… são muitas as opções e jeitos de fazer. Abra a massa delicadamente sobre a bancada de trabalho e comece a puxar as laterais da massa e dobrar sobre ela mesma. Comece pela parte de baixo, puxando e esticando até o centro. Depois, puxe um pouco da massa nas laterais esquerda e direita e cruze a massa até alcançar o outro ponto. Pegue a parte de cima, puxe e estique até alcançar a ponta de baixo. Depois, comece a puxar um pouco da massa de cada lado, cruzando e “colando” com a ponta do do outro lado, como se estivesse costurando. Vá enrolando a massa sobre ela mesma, deixando a parte da costura para baixo, em contato com a bancada, para selar. Ao finalizar a moldagem, coloque a massa com a costura para cima num banetton ou qualquer cesto forrado com guardanapo e polvilhado com farinha de arroz. Você pode usar um escorredor de macarrão, bowl de vidro ou alumínio, cesto de vime… vale tudo!).

Passo 6 – Segunda fermentação
Deixe a massa descansar para segunda fermentação. Em temperatura ambiente, deixe descansar de 3 a 4 horas, até crescer. Na geladeira, para fermentação mais lenta, guarde o cesto dentro de um saco plástico fechado (para não ressecar) e deixe a massa na parte menos fria da geladeira de 12 a 24 horas.

Passo 7 – Assar
O pão deve crescer um pouco durante a segunda fermentação, mas ainda deverá ter fôlego para crescer no forno, o que chamamos de “salto de forno”. Se achar que depois das 12 ou 24hs na geladeira sua massa não cresceu nada, deixe um tempo em temperatura ambiente para que a massa se desenvolva um pouco antes de ir pro forno.

Pré-aqueça o forno em 250 graus por 30 minutos e coloque a panela com tampa para esquentar. Use um timer (tem no seu celular!) para não perder a hora.

Enquanto a panela aquece, tire a massa da geladeira, passe um pouco de farinha de trigo sobre ela e faça o corte e a decoração que desejar. Essa é uma das partes mais divertidas do processo. Se achar que sua massa está muito molenga, deixe um tempo no freezer para firmar-se mais enquanto o forno pré-aquece.

Passado os 30 minutos, tire a panela do forno, polvilhe farinha de arroz ou use papel Dover para o pão não grudar (é muito melhor que papel manteiga!).

Coloque o pão na panela, tampe, mas cuidado para não se queimar. Lembre-se, está MUITO quente. Você pode borrifar água na tampa quente, logo antes de fechar a panela, para formar o vapor que ajudará a manter a casca úmida enquanto o pão assa bem, de dentro pra fora.

Coloque a panela tampada no forno e deixe assar por 30 minutos a 250 graus. Lembre-se de usar o timer, uma santa ajuda. Depois, tire a tampa e veja como ficou seu pão.

Reduza a 220 graus e deixe assar por mais 20 minutos, sem a tampa. Reduza a 180 e deixe assar por mais 10 minutos, para deixar o miolo mais seco, reduzindo o excesso de umidade da massa. Nos minutos finais, acenda o queimador superior (se seu forno tiver) para ajudar a deixá-lo mais corado sem queimar a parte de baixo.

O tempo de cocção do pão pode variar de forno para forno. Fique de olho, sempre!

Passo 8 – Esperar
Depois de assado, tire o pão da panela e deixe esfriar totalmente sobre uma grelha (pode ser na grelha do fogão), deixando o ar passar por cima e por baixo do pão, para que a casca de baixo não fique úmida demais por conta do calor. Esse tempo é importante para que o pão termine a cocção, mesmo fora do forno, liberando gazes e consolidando textura, aroma e sabor.

Quando o pão esiver frio, abra e descubra a maravilha que fica essa combinação de sabores.

Seja feliz, faça pão!

Receita do Croissant (de chocolate!) pra fazer em casa

Quando penso em Croissants, penso naquela massa folhada e amanteigada, de casquinha crocante e com bastante chocolate. Apesar de não ter sido criado originalmente com recheio, para mim é a combinação perfeita. Gosto deles com geleias, queijos e presuntos dos mais variados tipos… até sem recheio. Mas o chocolate tem lugar de destaque na minha lista de preferências.

O mais francês dos pães amanteigados, na verdade, é de origem austríaca. Sua criação é atribuída aos padeiros vienenses, em 1683, durante a Batalha de Viena. Seu formato curvado e quarto crescente, segundo alguns estudiosos, estaria relacionado à bandeira do Império Otomano. Foi Maria Antonieta, rainha consorte da França, quem popularizou o croissant no país, a partir de 1770. Os franceses ainda chamam esse tipo de pão de viennoiserie.

Em busca do Croissant perfeito, com casca crocante e dourada, formato inconfundível, mil camadas, miolo macio, aerado e cheio de alvéolos, comecei a pesquisar e testar algumas receitas. Fazer um verdadeiro croissant não é das tarefas mais fáceis, a menos que você se contente com essas massas pesadas e gordurosas que vendem por aí.

O verdadeiro Croissant tem um je nes sais quoi que é só dele. O esforço, afinal são 3 dias de preparo, vale a pena. Mas recomenda-se moderação em provar essas delícias, hein? Muita manteiga, muita gordura, muitas calorias.

Vamos à receita? Essa é uma variação – com algumas alterações – da receita da (mestra) Papoula Ribeiro, que a Kyoko Matsudaira compartilhou quando participou de um de seus cursos, no evento “Chef pela Cura: Pão com Pão”, da Tucca. Aliás, estou esperando abrir novos cursos para me aperfeiçoar nessa maravilha!

Outra receita de Croissant que gosto de fazer é da Raíza Costa, do canal “Dulce Delight”. Ela também apresenta o programa “Rainha da Cocada”, no GNT. Assista ao vídeo da receita no Youtube.

Em breve quero testar novas receitas de Croissant com fermento natural. Por enquanto, vamos de fermento biológico seco mesmo…

Receita do tradicional Croissant au Beurre

INGREDIENTES

  • 500g de farinha de trigo
  • 140g de água gelada
  • 140g de leite gelado
  • 5g de fermento biológico seco (meio pacotinho)
  • 60g de açúcar
  • 10g de sal
  • 30g de manteiga em ponto de pomada (mais firme e fria de preferência)
  • 240g de manteiga para folhear
  • Ovos para pincelar
  • Barra de chocolate para rechear, se desejar


MODO DE PREPARO

Primeira etapa (dia 1)
Aqui começa a aventura! Separe e pese todos os ingredientes que você usará nessa receita de Croissant. Num recipiente, misture bem a farinha, água, leite, sal e fermento biológico, até obter uma massa homogênea e bem hidratada. Acrescente o açúcar, misturando até que fique bem incorporado à massa. Junte os 30g de manteiga e sove por até 15 minutos. Essa massa é uma delícia de trabalhar. Então, aproveite para usar as mãos! Se preferir, porém, use a batedeira.

Cubra a massa com plástico e deixe descansar por pelo menos 1 hora. Em seguida, vá apertando as laterais da massa, já dentro do plástico, para que ela fique num formato mais quadrado. Isso facilitará o trabalho no segundo dia. Deixe a massa descansar na geladeira por pelo menos 12 horas.

Nesse primeiro dia vamos também preparar os 240g de manteiga para ficar no formato quadrado, que será usado para folhear a massa do croissant. Corte a manteiga em pedaços e arrume sobre filme-plástico ou papel-manteiga. Cubra a manteiga e, com ajuda de um rolo de massa, vá apertando (se estiver muito firme pode bater sem dó!) até conseguir um quadrado de 30 x 30cm, mais fino. Leve a manteiga também para a geladeira, junto com a massa.

Segunda etapa (dia 2)
Depois do merecido descanso, é hora de preparar a massa para a folhagem.

Polvilhe a mesa ou bancada com um pouco de farinha. Tire a massa do plástico e, com uma faca, faça uma cruz sobre ela. Vire a massa para que fique como um losango (passo 1 na foto acima) em relação a você e abra cada um dos 4 lados (passo 2). Abra o suficiente para colocar a manteiga no centro (passo 3) e cobri-la com as laterais da massa, como um envelope (passos 4 a 6). Ao final você terá um quadrado de massa envolvendo a manteiga.

Cubra novamente com plástico e leve para geladeira para descansar por 30 minutos.

Após descanso, coloque a massa gelada sobre a mesa ou bancada polvilhada com um pouco de farinha e comece a abrir a massa (passos 7 e 8 na foto acima), novamente, fazendo uma dobra simples, ou seja, dobrando apenas duas laterais, formando um retângulo (passos 9 e 10). A seguir, dobre as outras duas laterais, uma sobre a outra, formando um quadrado (passos 11 e 12).

Cubra novamente e leve para descansar por mais 30 minutos na geladeira. Esse descanso na geladeira é importante para a manteiga não derreter. Se o ambiente estiver muito quente e a manteiga der sinais de que vai começar a derreter, é hora de parar o processo e levar pra geladeira.

Após o descanso, repita o processo (passos 7 a 12) de abrir a massa e fazer a segunda dobra simples. Após a última dobra dobra, leve a massa para geladeira para descansar de 12 horas a 24 horas.

Terceira etapa (dia 3)
Abra a massa até conseguir um retângulo de aproximadamente 0,7cm. Se preferir, você pode fazer mais uma dobra simples para chegar nesse formato. Quanto mais dobras, mais camadas amanteigadas no seu croissant.

Quando sua massa estiver na medida desejada, corte a massa em triângulos (com base de 10 cm). Faça um pequeno corte na base do triângulo, coloque o recheio, se desejar, e comece a enrolar da base para a ponta. Os croissants de chocolate também podem ser feitos em pedaços retangulares (ao invés de triângulos).

Arrume os croissants sobre a assadeira e pincele com ovo batido com um pouco de água.

Deixe o Croissant fermentar até quase dobrar de tamanho. Procure um lugar que não seja muito quente para deixar a assadeira. Assim a manteiga não começará a derreter, estragando todo seu trabalho.

Quando o Croissant crescer, pincele mais um pouco do ovo batido com um pouco de água e leve ao forno pré-aquecido a 200 graus por 15 minutos e, depois, pois mais 20 minutos a 150 graus. A temperatura e o tempo podem variar de forno para forno. Fique SEMPRE de olho no seu Croissant.

Voilà! Seu Croissant está pronto, cheio de camadas amanteigadas, para você saborear.

Repetindo a receita algumas vezes você verá que, apesar de trabalhoso, não é nenhum bicho de sete cabeça. E o resultado compensa e muito!

RESUMO DA ÓPERA

  • Misturar os ingredientes
  • Sovar a massa por 10 a 15 minutos
  • Descanso de 1 hora em temperatura ambiente
  • Preparar manteiga para folhagem
  • Descanso de 12 horas na geladeira (massa e manteiga)
  • Abrir a massa e colocar a manteiga no centro
  • Dobrar as quatro laterais da massa como envelope sobre manteiga
  • Descanso de 30 minutos na geladeira
  • Abrir a massa e dobrar apenas duas laterais (esquerda e direita) e, em seguinda, as outras duas laterais (de cima e de baixo).
  • Repetir descanso de 30 minutos
  • Novamente, abrir a massa e dobrar apenas duas laterais (esquerda e direita) e, em seguinda, as outras duas laterais (de cima e de baixo).
  • Descanso de 12 a 24 horas na geladeira
  • Abrir a massa em formato retângulo com 0,7cm de espessura
  • Cortar massa em triângulos com base de 10cm
  • Fazer pequeno corte na base de triângulo, colocar recheio e começar a modelar
  • Pincelar ovo batido com água
  • Descanso até croissant quase dobrar de tamanho
  • Pincelar mais ovo batido com água
  • Assar por 15 minutos em forno pré-aquecido a 200 graus.
  • Assar por mais 20 minutos a 150 graus.

Se tiver alguma dúvida e eu puder ajudar, deixe seu comentário.

Seja feliz, faça pão!

Receita de Pão semi-integral rústico com nozes e mel

No último fim de semana resolvi fazer uma versão nova do pão integral com nozes que aprendi em um dos episódios do programa Cozinha Prática, da Rita Lobo, no GNT. Como já disse em outro post, ela foi uma das minhas grandes inspiradoras nesse universo de pães artesanais. Dessa vez, adaptei a receita de pão italiano (sourdough) com fermentação natural, substituindo um pouco de farinha branca pela integral e adicionando os demais ingredientes da receita original. O resultado foi surpreendente: um pão semi integral delicioso, levemente adocicado, com a crocância das nozes.

Antes de começar a preparar a massa do pão, lembre-se de alimentar (ou refrescar) seu fermento natural. Costumo alimentá-lo duas vezes quando está com pouca atividade, usando a proporção 1-2-3 (que aprendi com os vídeos do Luiz América Camargo, autor do livro “Pão Nosso”). Para primeira alimentação, uso 25g de fermento, com 50g de água e 75g de farinha de trigo branca. Depois que duplicar de tamanho, alimento pela segunda vez, sem descartar o fermento, apenas adicionando mais 50g de água e 75g de farinha. Ele estará pronto para usar quando tiver duplicado de tamanho. Lembre-se sempre de deixar pelo menos 25g do levain para a próxima fornada.

INGREDIENTES

  • Farinha de trigo branca: 350g
  • Farinha de trigo integral: 150g
  • Água gelada: 350g (70% de hidratação)
  • Gérmen de trigo: 10g (opcional)
  • Levain: 175g (35%)
  • Sal: 12g
  • Mel: 1 colher de sopa
  • Nozes: 1 xícara de nozes picadas grosseiramente ou inteiras, se preferir

PREPARO DA MASSA

Passo 1 – Autólise
Misture bem a farinha e parte da água gelada (reserve 25g de água para a segunda hidratação da massa, durante a sova. Use esse restinho de água apenas se perceber que sua farinha aguentará absorver mais água). Deixe a massa descansar por 1 hora na geladeira, coberta por filme plástico. A massa deve estar fria para evitar que esquente demais durante a sova.

Passo 2 – Sovar
Depois do descanso, você perceberá que a massa está mais elástica, graças à ação do glúten. Chegou a hora de colocar a mão na massa. Essa etapa pode ser feita de duas formas: à mão ou com a santa ajuda de uma batedeira planetária com gancho. Dos dois jeitos dará certo.

Se escolher sovar à mão, não se preocupe em usar muita força. Existem algumas técnicas, como a “slap and fold”, que não exigem tanto músculo, apenas jeito e prática. Seus braços vão agradecer.

Acrescente o levain à massa, misture bem com as mãos e comece a bater a massa sobre a superfície em que está trabalhando e a dobrá-la sobre ela mesma, repetidas vezes, por 3 minutos. Comece a sentir sua massa, se está muito mole, talvez não precise acrescentar os restante da água gelada que você deixou reservada. Use apenas se sua farinha for forte ou se sua massa ainda estiver muito grudenta. Sove por mais 3 minutos e acrescente o sal. Misture bem a massa e sove por mais 4 minutos. Acrescente o mel e sove até que esteja bem incorporado à massa.

Se escolheu sovar com a ajuda da batedeira planetária, acrescente o levain e comece a incorporá-lo à massa na velocidade 2 (ou se sua batedeira aguentar o tranco, na velocidade 1) por 3 minutos. Acrescente a água, sove por mais 3 minutos na velocidade 2, tomando cuidado para não espirrar toda água pra fora do bowl. Acrescente o sal e bata a massa por mais 4 minutos, começando pela velocidade 3 até finalizar com a velocidade 4. Acrescente o mel e sove até que esteja bem incorporado à massa. Você deve começar a ouvir um barulho de “pneu furado” nos minutos finais, enquanto a massa bate nas laterais do bowl. Isso é um ótimo sinal!

O tempo total de sova pode variar de 10 a 15 minutos. Esse tempo deve variar de acordo com a temperatura do ambiente, quantidade de água e qualidade da farinha. Você deve perceber que a massa atingiu um “ponto de véu” (quando você começa a esticar a massa com as mãos, ela não se rasga).

Depois de sovar, deixe a massa descansar num bowl, coberto pelo pano úmido ou filme plástico para não ressecar, por 2 horas. Sim, esse tempo é importante para fermentação. É dentro dessas 2 horas que faremos as dobras da massa.

Passo 3 – Dobras e primeira fermentação

Após os primeiros 30 minutos de descanso começaremos a fazer dobras na massa, de meia e meia hora, por 2 horas (total de 4 dobras). Essa etapa é importante no processo de fermentação pois, quando esticamos e dobramos a massa, estamos trabalhando a cadeia de glúten.

No bowl (você também pode usar uma caixa de plástico), pegue um lado da massa, estique e dobre sobre ela mesma, até alcançar o outro lado. Repita isso nos 3 outros lados. Deixe descansar por 30 minutos e volte a repetir o mesmo movimento, mais 3 vezes, com intervalos de 30 minutos. Depois da última dobra, deixe descansar por mais 30 minutos.

Se o dia estiver quente, costumo fazer a descanso entre as dobras na geladeira. A melhor temperatura para a massa é entre 25 e 27 graus. Mas você só conseguirá medir isso com um termômetro de cozinha. Faça testes para ver qual resultado é o melhor pra você.

Passo 4 – Pre-shape ou pré-moldagem
Depois das dobras e descansos, divida a massa, caso queira pães menores. Costumo separar em duas partes a massa com 700g de farinha. Os pães com 300 ou 500g de farinha não costumo dividir. Aliás, isso vai depender da panela em que você assará seu pão. Quanto maior a massa, maior precisará ser sua panela. A pré-moldagem é importante para que sua massa comece a se preparar para o formato final em que fará a segunda fermentação, antes de ir pra panela. Abra a massa delicadamente com as mãos e puxe as laterais para o centro, unindo e apertando as pontas. Vire o lado da “costura” para baixo, boleie a massa para deixá-la mais redonda e deixe descansar por mais 30 minutos.

Passo 5 – Enriquecer a massa
Na bancada, abra a massa com as mãos e espalhe as nozes, pressionando para que os pedaços fiquem bem presos à massa. Você pode acrescentar o tanto de nozes que desejar (a medida da xícara é apenas uma referência).

Passo 6 – Shape ou moldagem final
Já decidiu qual formato quer fazer nesse pão? Redondo, retangular… são muitas as opções e jeitos de fazer. Abra a massa delicadamente sobre a bancada de trabalho e comece a puxar as laterais da massa e dobrar sobre ela mesma. Comece pela parte de baixo, puxando e esticando até o centro. Depois, puxe um pouco da massa nas laterais esquerda e direita e cruze a massa até alcançar o outro ponto. Pegue a parte de cima, puxe e estique até alcançar a ponta de baixo. Depois, comece a puxar um pouco da massa de cada lado, cruzando e “colando” com a ponta do do outro lado, como se estivesse costurando. Vá enrolando a massa sobre ela mesma, deixando a parte da costura para baixo, em contato com a bancada, para selar. Pode parecer difícil, mas o vídeo te ajudará a entender melhor como moldar o pão.Ao finalizar a moldagem, coloque a massa com a costura para cima, num banetton ou qualquer cesto forrado com guardanapo e polvilhado com farinha de arroz. Você pode usar um escorredor de macarrão, bowl de vidro ou alumínio, cesto de vime… vale tudo!).

Passo 7 – Segunda fermentação
Deixe a massa descansar para segunda fermentação. Em temperatura ambiente, deixe descansar por 3 horas. Na geladeira, para fermentação mais lenta, cubra com plástico (para não ressecar) e deixe a massa na parte menos fria da geladeira de 12 a 24 horas.

Passo 8 – Assar
O pão deve crescer um pouco durante a segunda fermentação, mas não deixe dobrar de tamanho. O pão deve ter fôlego para crescer no forno, o que chamamos de “salto de forno”. Se achar que depois das 12 ou 24hs na geladeira sua massa não cresceu nada, deixe um tempo em temperatura ambiente para que a massa se desenvolva um pouco.

Pré-aqueça o forno em 250 graus por 30 minutos e coloque a panela com tampa para esquentar. Use um timer (tem no seu celular!) para não perder a hora.
Enquanto a panela aquece, tire a massa da geladeira, passe um pouco de farinha de trigo sobre ela e faça o corte e a decoração que desejar. Essa é uma das partes mais divertidas do processo.

Passado os 30 minutos, tire a panela do forno, polvilhe farinha de arroz ou use papel Dover para o pão não grudar (é melhor que papel manteiga!).
Coloque o pão na panela, tampe, mas cuidado para não se queimar. Lembre-se, está MUITO quente. Você pode borrifar água na tampa quente, logo antes de fechar a panela, para formar o vapor que ajudará a manter a casca úmida enquanto o pão assa bem, de dentro pra fora.

Coloque a panela tampada no forno e deixe assar por 30 minutos a 250 graus. Lembre-se de usar o timer, uma santa ajuda. Depois, tire a tampa e veja como ficou seu pão.

Reduza a 220 graus e deixe assar por mais 20 minutos, sem a tampa. Reduza a 180 e deixe assar por mais 10 minutos, para deixar o miolo mais seco, reduzindo o excesso de umidade da massa. Nos minutos finais, acenda a grelha superior (se seu forno tiver) para ajudar a deixá-lo mais corado sem queimar a parte de baixo.
O tempo de cocção do pão pode variar de forno para forno. Fique de olho, sempre!

Passo 9 – Esperar
Depois de assado, tire o pão da panela e deixe esfriar totalmente sobre uma grelha (pode ser na grelha do fogão), deixando o ar passar por cima e por baixo do pão, para que a casca de baixo não fique úmida demais por conta do calor. Esse tempo é importante para que o pão termine a cocção, mesmo fora do forno.

RESUMO DA ÓPERA

  • Autólise na geladeira por 1 hora
  • Sovar a massa por 10 a 15 minutos
  • Dobras a cada meia hora, por 2 horas
  • Descanso de 2 horas (primeira fermentação)
  • Pré-moldagem
  • Descanso de 30 minutos
  • Enriquecer a massa com pedaços de nozes
  • Moldagem final
  • Segunda fermentação em temperatura ambiente por 3 horas ou na geladeira de 12 a 24 horas
  • Pré-aquecer forno e panela com tampa por 30 minutos
  • Assar a 250 graus por 30 minutos
  • Tirar a tampa e continuar a assar a 220 graus por 20 minutos
  • Finalizar a 180 graus por 10 minutos (ligando grelha superior nos últimos minutos para dourar)
  • Esperar esfriar
  • Comer

Seja feliz, faça pão.

Receita de Pão de Hokkaido com método Tangzhong

Pão de leite de Hokkaido com método Tangzhong

Além do pão italiano, que já é um sucesso lá em casa, outra receita que tenho feito repetidas vezes, experimentando algumas variações, é o “Pão de Hokkaido com método Tangzhong”. Parece complicado, né? Mas imagine um pão de leite, muito macio, com sabor adocicado e levemente azedo pela fermentação natural… Uma maravilha que aprendi com a Aline Galle e os amigos do grupo “Levain”, no Facebook.

Você pode experimentar fazê-lo com ou sem recheio, em diferentes formatos. O resultado será sempre um pão saboroso, fresquinho e macio por dias.

Mas afinal, o que é o Tangzhong? Esse método asiático, também conhecido como “Water Roux Method”, é uma espécie de mingau mais grosso, feito de farinha e água, que depois será adicionado à massa. Ele é o responsável por deixar o pão artesanal macio por mais tempo.

Como fazer o Tangzhong?
Numa panela, adicione 50g de farinha de trigo e 250ml de água e misture bem, em fogo baixo, até o mingau engrossar, sem deixar ferver. Depois de pronto, deixe esfriar completamente e incorpore à receita do Pão Hokkaido (ou em qualquer receita de pão!). O Tanzhong funcionará como um emulsificante natural, conservando e deixando seu pão mais macio por mais tempo.

Receita do Pão de Leite de Hokkaido
(adaptação da receita compartilhada pela professora Aline Galle)

Pão de leite de Hokkaido com método Tangzhong

INGREDIENTES

  • 3 xícaras de farinha de trigo
  • 4 colheres (sopa) de açúcar
  • 1 colher (sopa) de leite em pó
  • 1 xícara de leite
  • 1 ovo para a massa (e um outro ovo será usado para pincelar)
  • 1 colher (chá) de sal
  • 1/2 xícara de Tangzhong
  • 4 colheres de sopa de manteiga em consistência pastosa (prefiro usar manteiga sem sal)
  • 120g de levain (você pode usar 5g de fermento biológico seco)

Pão de leite de Hokkaido com método Tangzhong

PREPARO DA MASSA

Passo 1 – Misturar, sovar, dobrar
Misture todos os ingredientes até obter uma massa uniforme. Sove por 10 a 15 minutos, à mão ou com ajuda de uma batedeira planetária com gancho, até obter o ponto de véu.
Deixe descansar por 30 minutos e comece a fazer dobras a cada meia hora, por 2 horas. Ao todo serão 4 dobras que farão o glúten se desenvolver melhor.
Após a última dobra, deixe a massa descansar por mais 30 minutos num recipiente coberto com filme-plástico ou toalha umedecida.

Passo 2 – Shape ou moldagem
Modele a massa do jeito que preferir e coloque numa forma untada com manteiga e farinha.

Passo 3 – Fermentar
Deixe a massa fermentar por 4 horas, dentro do seu forno convencional ou microondas, com a lâmpada acesa para ajudar seu levain a fazer a mágica acontecer. Vale até deixar a massa num cantinho, com luminária acesa, para aquecer um pouquinho mais sua massa.

Passo 4 – Finalizar
Depois do tempo de fermentação, pincele 1 ovo batido com um pouco de leite sobre a massa.

Passo 5 – Assar
Pré-aqueça o forno por 20 minutos, a 220º. Asse por 35 minutos ou até deixar a casca corada do jeito que você mais gosta.

Passo 6 – Esperar
Depois de assado, tire da forma e deixe descansar sobre uma grelha até esfriar completamente.

Pão de leite de Hokkaido com método Tangzhong

Agora chegou a hora de você experimentar essa receita, e também o método Tangzhong, e compartilhar nos comentários suas dicas e descobertas.

Seja feliz, faça pão.

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