No último fim de semana resolvi fazer uma versão nova do pão integral com nozes que aprendi em um dos episódios do programa Cozinha Prática, da Rita Lobo, no GNT. Como já disse em outro post, ela foi uma das minhas grandes inspiradoras nesse universo de pães artesanais. Dessa vez, adaptei a receita de pão italiano (sourdough) com fermentação natural, substituindo um pouco de farinha branca pela integral e adicionando os demais ingredientes da receita original. O resultado foi surpreendente: um pão semi integral delicioso, levemente adocicado, com a crocância das nozes.
Antes de começar a preparar a massa do pão, lembre-se de alimentar (ou refrescar) seu fermento natural. Costumo alimentá-lo duas vezes quando está com pouca atividade, usando a proporção 1-2-3 (que aprendi com os vídeos do Luiz América Camargo, autor do livro “Pão Nosso”). Para primeira alimentação, uso 25g de fermento, com 50g de água e 75g de farinha de trigo branca. Depois que duplicar de tamanho, alimento pela segunda vez, sem descartar o fermento, apenas adicionando mais 50g de água e 75g de farinha. Ele estará pronto para usar quando tiver duplicado de tamanho. Lembre-se sempre de deixar pelo menos 25g do levain para a próxima fornada.
INGREDIENTES
- Farinha de trigo branca: 350g
- Farinha de trigo integral: 150g
- Água gelada: 350g (70% de hidratação)
- Gérmen de trigo: 10g (opcional)
- Levain: 175g (35%)
- Sal: 12g
- Mel: 1 colher de sopa
- Nozes: 1 xícara de nozes picadas grosseiramente ou inteiras, se preferir
PREPARO DA MASSA
Passo 1 – Autólise
Misture bem a farinha e parte da água gelada (reserve 25g de água para a segunda hidratação da massa, durante a sova. Use esse restinho de água apenas se perceber que sua farinha aguentará absorver mais água). Deixe a massa descansar por 1 hora na geladeira, coberta por filme plástico. A massa deve estar fria para evitar que esquente demais durante a sova.
Passo 2 – Sovar
Depois do descanso, você perceberá que a massa está mais elástica, graças à ação do glúten. Chegou a hora de colocar a mão na massa. Essa etapa pode ser feita de duas formas: à mão ou com a santa ajuda de uma batedeira planetária com gancho. Dos dois jeitos dará certo.
Se escolher sovar à mão, não se preocupe em usar muita força. Existem algumas técnicas, como a “slap and fold”, que não exigem tanto músculo, apenas jeito e prática. Seus braços vão agradecer.
Acrescente o levain à massa, misture bem com as mãos e comece a bater a massa sobre a superfície em que está trabalhando e a dobrá-la sobre ela mesma, repetidas vezes, por 3 minutos. Comece a sentir sua massa, se está muito mole, talvez não precise acrescentar os restante da água gelada que você deixou reservada. Use apenas se sua farinha for forte ou se sua massa ainda estiver muito grudenta. Sove por mais 3 minutos e acrescente o sal. Misture bem a massa e sove por mais 4 minutos. Acrescente o mel e sove até que esteja bem incorporado à massa.
Se escolheu sovar com a ajuda da batedeira planetária, acrescente o levain e comece a incorporá-lo à massa na velocidade 2 (ou se sua batedeira aguentar o tranco, na velocidade 1) por 3 minutos. Acrescente a água, sove por mais 3 minutos na velocidade 2, tomando cuidado para não espirrar toda água pra fora do bowl. Acrescente o sal e bata a massa por mais 4 minutos, começando pela velocidade 3 até finalizar com a velocidade 4. Acrescente o mel e sove até que esteja bem incorporado à massa. Você deve começar a ouvir um barulho de “pneu furado” nos minutos finais, enquanto a massa bate nas laterais do bowl. Isso é um ótimo sinal!
O tempo total de sova pode variar de 10 a 15 minutos. Esse tempo deve variar de acordo com a temperatura do ambiente, quantidade de água e qualidade da farinha. Você deve perceber que a massa atingiu um “ponto de véu” (quando você começa a esticar a massa com as mãos, ela não se rasga).
Depois de sovar, deixe a massa descansar num bowl, coberto pelo pano úmido ou filme plástico para não ressecar, por 2 horas. Sim, esse tempo é importante para fermentação. É dentro dessas 2 horas que faremos as dobras da massa.
Passo 3 – Dobras e primeira fermentação
Após os primeiros 30 minutos de descanso começaremos a fazer dobras na massa, de meia e meia hora, por 2 horas (total de 4 dobras). Essa etapa é importante no processo de fermentação pois, quando esticamos e dobramos a massa, estamos trabalhando a cadeia de glúten.
No bowl (você também pode usar uma caixa de plástico), pegue um lado da massa, estique e dobre sobre ela mesma, até alcançar o outro lado. Repita isso nos 3 outros lados. Deixe descansar por 30 minutos e volte a repetir o mesmo movimento, mais 3 vezes, com intervalos de 30 minutos. Depois da última dobra, deixe descansar por mais 30 minutos.
Se o dia estiver quente, costumo fazer a descanso entre as dobras na geladeira. A melhor temperatura para a massa é entre 25 e 27 graus. Mas você só conseguirá medir isso com um termômetro de cozinha. Faça testes para ver qual resultado é o melhor pra você.
Passo 4 – Pre-shape ou pré-moldagem
Depois das dobras e descansos, divida a massa, caso queira pães menores. Costumo separar em duas partes a massa com 700g de farinha. Os pães com 300 ou 500g de farinha não costumo dividir. Aliás, isso vai depender da panela em que você assará seu pão. Quanto maior a massa, maior precisará ser sua panela. A pré-moldagem é importante para que sua massa comece a se preparar para o formato final em que fará a segunda fermentação, antes de ir pra panela. Abra a massa delicadamente com as mãos e puxe as laterais para o centro, unindo e apertando as pontas. Vire o lado da “costura” para baixo, boleie a massa para deixá-la mais redonda e deixe descansar por mais 30 minutos.
Passo 5 – Enriquecer a massa
Na bancada, abra a massa com as mãos e espalhe as nozes, pressionando para que os pedaços fiquem bem presos à massa. Você pode acrescentar o tanto de nozes que desejar (a medida da xícara é apenas uma referência).
Passo 6 – Shape ou moldagem final
Já decidiu qual formato quer fazer nesse pão? Redondo, retangular… são muitas as opções e jeitos de fazer. Abra a massa delicadamente sobre a bancada de trabalho e comece a puxar as laterais da massa e dobrar sobre ela mesma. Comece pela parte de baixo, puxando e esticando até o centro. Depois, puxe um pouco da massa nas laterais esquerda e direita e cruze a massa até alcançar o outro ponto. Pegue a parte de cima, puxe e estique até alcançar a ponta de baixo. Depois, comece a puxar um pouco da massa de cada lado, cruzando e “colando” com a ponta do do outro lado, como se estivesse costurando. Vá enrolando a massa sobre ela mesma, deixando a parte da costura para baixo, em contato com a bancada, para selar. Pode parecer difícil, mas o vídeo te ajudará a entender melhor como moldar o pão.Ao finalizar a moldagem, coloque a massa com a costura para cima, num banetton ou qualquer cesto forrado com guardanapo e polvilhado com farinha de arroz. Você pode usar um escorredor de macarrão, bowl de vidro ou alumínio, cesto de vime… vale tudo!).
Passo 7 – Segunda fermentação
Deixe a massa descansar para segunda fermentação. Em temperatura ambiente, deixe descansar por 3 horas. Na geladeira, para fermentação mais lenta, cubra com plástico (para não ressecar) e deixe a massa na parte menos fria da geladeira de 12 a 24 horas.
Passo 8 – Assar
O pão deve crescer um pouco durante a segunda fermentação, mas não deixe dobrar de tamanho. O pão deve ter fôlego para crescer no forno, o que chamamos de “salto de forno”. Se achar que depois das 12 ou 24hs na geladeira sua massa não cresceu nada, deixe um tempo em temperatura ambiente para que a massa se desenvolva um pouco.
Pré-aqueça o forno em 250 graus por 30 minutos e coloque a panela com tampa para esquentar. Use um timer (tem no seu celular!) para não perder a hora.
Enquanto a panela aquece, tire a massa da geladeira, passe um pouco de farinha de trigo sobre ela e faça o corte e a decoração que desejar. Essa é uma das partes mais divertidas do processo.
Passado os 30 minutos, tire a panela do forno, polvilhe farinha de arroz ou use papel Dover para o pão não grudar (é melhor que papel manteiga!).
Coloque o pão na panela, tampe, mas cuidado para não se queimar. Lembre-se, está MUITO quente. Você pode borrifar água na tampa quente, logo antes de fechar a panela, para formar o vapor que ajudará a manter a casca úmida enquanto o pão assa bem, de dentro pra fora.
Coloque a panela tampada no forno e deixe assar por 30 minutos a 250 graus. Lembre-se de usar o timer, uma santa ajuda. Depois, tire a tampa e veja como ficou seu pão.
Reduza a 220 graus e deixe assar por mais 20 minutos, sem a tampa. Reduza a 180 e deixe assar por mais 10 minutos, para deixar o miolo mais seco, reduzindo o excesso de umidade da massa. Nos minutos finais, acenda a grelha superior (se seu forno tiver) para ajudar a deixá-lo mais corado sem queimar a parte de baixo.
O tempo de cocção do pão pode variar de forno para forno. Fique de olho, sempre!
Passo 9 – Esperar
Depois de assado, tire o pão da panela e deixe esfriar totalmente sobre uma grelha (pode ser na grelha do fogão), deixando o ar passar por cima e por baixo do pão, para que a casca de baixo não fique úmida demais por conta do calor. Esse tempo é importante para que o pão termine a cocção, mesmo fora do forno.
RESUMO DA ÓPERA
- Autólise na geladeira por 1 hora
- Sovar a massa por 10 a 15 minutos
- Dobras a cada meia hora, por 2 horas
- Descanso de 2 horas (primeira fermentação)
- Pré-moldagem
- Descanso de 30 minutos
- Enriquecer a massa com pedaços de nozes
- Moldagem final
- Segunda fermentação em temperatura ambiente por 3 horas ou na geladeira de 12 a 24 horas
- Pré-aquecer forno e panela com tampa por 30 minutos
- Assar a 250 graus por 30 minutos
- Tirar a tampa e continuar a assar a 220 graus por 20 minutos
- Finalizar a 180 graus por 10 minutos (ligando grelha superior nos últimos minutos para dourar)
- Esperar esfriar
- Comer
Seja feliz, faça pão.
Amei esta receita e quero testar em breve. Minha dúvida: no caso da segunda fermentação na geladeira entre 12 e 24 horas, depois que tirar da geladeira já pode levar para assar em forno pré-aquecido ou espera a massa ficar em temperatura ambiente?
Oi Cristiane! Sim, pode levar direto da geladeira para a panela pré-aquecida. A massa mais fria deve ajudar inclusive no corte, quando for riscar o pão para criar o caminho em que o vapor vai sair.
Obrigada! Quero fazer todas as receitas que vc publica aqui no seu site. No próximo fds vou fazer a receita da foccacia para o namorado. :)
Opa! E aí, deu certo? Espero que sim. Essa focaccia é uma delícia. E uma delícia de fazer também.
Gostei muito da receita. Uma dúvida: meu forno elétrico tem duas resistências e sempre fico em dúvida se ligo a superior tb, no momento de preaquecer; ou se deixo apenas para finalizar, ajudar a dar mais cor. O que seria mais indicado? Obrigada
Oi, Silvia. Meu forno também tem duas resistências. Para pré-aquecer, ligo as duas, assim garanto que a temperatura fique bem uniforme.
Quando coloco o pão no forno, desligo a de cima e deixo apenas a de baixo em 250 graus.
Nos últimos 5 minutos, quando pão já está pronto e sem a tampa, ligo a de cima para dourar mais. Mas cuidado pra não perder a hora e deixar queimar… hehehe
Abraço, Guilherme.
Vou testar assim, muito obrigada! Acho que estou exagerando na temperatura. Deixo com a tampa por 20 minutos e quando destampo, o pão já está bem dourado… praticamente com a cor final.
Vale baixar um pouco a temperatura, que pode variar de forno pra forno. ;-)
Olá! Passando para dizer que hoje cedo assei meu pão numa temperatura mais baixa e o resultado foi muito melhor. De fato estava exagerando. Obrigada!
Que maravilha! Tá vendo? Tem sempre que testar e ajustar. Abraço!
Olá Guilherme, estou iniciando na arte de fazer pães e adorando o seu site! Muito didático, explicações detalhadas, perfeito. Muito obrigada por compartilhar o seu conhecimento de forma extraordinária!
Olá, Marinete! Fico tão feliz com seu comentário. Adoro fazer pães e faço o site e também as receitas com muito, mas muito mesmo, carinho. Espero contar sempre com sua visita e experiência. Abraço, Guilherme
Estou começando a fazer os pães e estou adorando,tenho erro e acertos e estou agora fazendo meu levain espero que de certo aí vou para meu primeiro pão com fermentação natural, não vejo a hora si e do aprender a refrescar. Obrigada por compartilhar.
Oi, Adriana! Fico muito feliz pelo comentário e por compartilhar contigo. A gente erra e acerta todo dia. E quando acerta, é cada vez melhor! ❤️ Abraço, Guilherme
Parabéns pelo site, informações precisas e fáceis de entender…
Pela sua experiência ,fazer a autólise já com o levain trará resultados melhores? E já que houve a sova na batedeira, para que fazer as dobras?
Olá, Simone. Obrigado!
Dependendo do tempo que tenho, faço a autólise já com o levain. No pão sem sova, inclusive, faço assim. Mas não deixo passar mais do que 1 hora.
Mesmo nos pães com sova, durante a primeira fermentação costumo fazer as dobras caso precise dar mais estrutura à massa. Como são muitos os fatores que interferem na formação da rede de glúten, nem sempre a massa ganha em estrutura apenas com a sova, mesmo que tenha ponto de véu. As dobras ajudam nesse processo, durante a primeira fermentação. Abraço!