por Guilherme Leme | 06/06/2018 | Receitas, Todos os posts |
No último fim de semana resolvi fazer uma versão nova do pão integral com nozes que aprendi em um dos episódios do programa Cozinha Prática, da Rita Lobo, no GNT. Como já disse em outro post, ela foi uma das minhas grandes inspiradoras nesse universo de pães artesanais. Dessa vez, adaptei a receita de pão italiano (sourdough) com fermentação natural, substituindo um pouco de farinha branca pela integral e adicionando os demais ingredientes da receita original. O resultado foi surpreendente: um pão semi integral delicioso, levemente adocicado, com a crocância das nozes.
Antes de começar a preparar a massa do pão, lembre-se de alimentar (ou refrescar) seu fermento natural. Costumo alimentá-lo duas vezes quando está com pouca atividade, usando a proporção 1-2-3 (que aprendi com os vídeos do Luiz América Camargo, autor do livro “Pão Nosso”). Para primeira alimentação, uso 25g de fermento, com 50g de água e 75g de farinha de trigo branca. Depois que duplicar de tamanho, alimento pela segunda vez, sem descartar o fermento, apenas adicionando mais 50g de água e 75g de farinha. Ele estará pronto para usar quando tiver duplicado de tamanho. Lembre-se sempre de deixar pelo menos 25g do levain para a próxima fornada.
INGREDIENTES
- Farinha de trigo branca: 350g
- Farinha de trigo integral: 150g
- Água gelada: 350g (70% de hidratação)
- Gérmen de trigo: 10g (opcional)
- Levain: 175g (35%)
- Sal: 12g
- Mel: 1 colher de sopa
- Nozes: 1 xícara de nozes picadas grosseiramente ou inteiras, se preferir
PREPARO DA MASSA
Passo 1 – Autólise
Misture bem a farinha e parte da água gelada (reserve 25g de água para a segunda hidratação da massa, durante a sova. Use esse restinho de água apenas se perceber que sua farinha aguentará absorver mais água). Deixe a massa descansar por 1 hora na geladeira, coberta por filme plástico. A massa deve estar fria para evitar que esquente demais durante a sova.
Passo 2 – Sovar
Depois do descanso, você perceberá que a massa está mais elástica, graças à ação do glúten. Chegou a hora de colocar a mão na massa. Essa etapa pode ser feita de duas formas: à mão ou com a santa ajuda de uma batedeira planetária com gancho. Dos dois jeitos dará certo.
Se escolher sovar à mão, não se preocupe em usar muita força. Existem algumas técnicas, como a “slap and fold”, que não exigem tanto músculo, apenas jeito e prática. Seus braços vão agradecer.
Acrescente o levain à massa, misture bem com as mãos e comece a bater a massa sobre a superfície em que está trabalhando e a dobrá-la sobre ela mesma, repetidas vezes, por 3 minutos. Comece a sentir sua massa, se está muito mole, talvez não precise acrescentar os restante da água gelada que você deixou reservada. Use apenas se sua farinha for forte ou se sua massa ainda estiver muito grudenta. Sove por mais 3 minutos e acrescente o sal. Misture bem a massa e sove por mais 4 minutos. Acrescente o mel e sove até que esteja bem incorporado à massa.
Se escolheu sovar com a ajuda da batedeira planetária, acrescente o levain e comece a incorporá-lo à massa na velocidade 2 (ou se sua batedeira aguentar o tranco, na velocidade 1) por 3 minutos. Acrescente a água, sove por mais 3 minutos na velocidade 2, tomando cuidado para não espirrar toda água pra fora do bowl. Acrescente o sal e bata a massa por mais 4 minutos, começando pela velocidade 3 até finalizar com a velocidade 4. Acrescente o mel e sove até que esteja bem incorporado à massa. Você deve começar a ouvir um barulho de “pneu furado” nos minutos finais, enquanto a massa bate nas laterais do bowl. Isso é um ótimo sinal!
O tempo total de sova pode variar de 10 a 15 minutos. Esse tempo deve variar de acordo com a temperatura do ambiente, quantidade de água e qualidade da farinha. Você deve perceber que a massa atingiu um “ponto de véu” (quando você começa a esticar a massa com as mãos, ela não se rasga).
Depois de sovar, deixe a massa descansar num bowl, coberto pelo pano úmido ou filme plástico para não ressecar, por 2 horas. Sim, esse tempo é importante para fermentação. É dentro dessas 2 horas que faremos as dobras da massa.
Passo 3 – Dobras e primeira fermentação
Após os primeiros 30 minutos de descanso começaremos a fazer dobras na massa, de meia e meia hora, por 2 horas (total de 4 dobras). Essa etapa é importante no processo de fermentação pois, quando esticamos e dobramos a massa, estamos trabalhando a cadeia de glúten.
No bowl (você também pode usar uma caixa de plástico), pegue um lado da massa, estique e dobre sobre ela mesma, até alcançar o outro lado. Repita isso nos 3 outros lados. Deixe descansar por 30 minutos e volte a repetir o mesmo movimento, mais 3 vezes, com intervalos de 30 minutos. Depois da última dobra, deixe descansar por mais 30 minutos.
Se o dia estiver quente, costumo fazer a descanso entre as dobras na geladeira. A melhor temperatura para a massa é entre 25 e 27 graus. Mas você só conseguirá medir isso com um termômetro de cozinha. Faça testes para ver qual resultado é o melhor pra você.
Passo 4 – Pre-shape ou pré-moldagem
Depois das dobras e descansos, divida a massa, caso queira pães menores. Costumo separar em duas partes a massa com 700g de farinha. Os pães com 300 ou 500g de farinha não costumo dividir. Aliás, isso vai depender da panela em que você assará seu pão. Quanto maior a massa, maior precisará ser sua panela. A pré-moldagem é importante para que sua massa comece a se preparar para o formato final em que fará a segunda fermentação, antes de ir pra panela. Abra a massa delicadamente com as mãos e puxe as laterais para o centro, unindo e apertando as pontas. Vire o lado da “costura” para baixo, boleie a massa para deixá-la mais redonda e deixe descansar por mais 30 minutos.
Passo 5 – Enriquecer a massa
Na bancada, abra a massa com as mãos e espalhe as nozes, pressionando para que os pedaços fiquem bem presos à massa. Você pode acrescentar o tanto de nozes que desejar (a medida da xícara é apenas uma referência).
Passo 6 – Shape ou moldagem final
Já decidiu qual formato quer fazer nesse pão? Redondo, retangular… são muitas as opções e jeitos de fazer. Abra a massa delicadamente sobre a bancada de trabalho e comece a puxar as laterais da massa e dobrar sobre ela mesma. Comece pela parte de baixo, puxando e esticando até o centro. Depois, puxe um pouco da massa nas laterais esquerda e direita e cruze a massa até alcançar o outro ponto. Pegue a parte de cima, puxe e estique até alcançar a ponta de baixo. Depois, comece a puxar um pouco da massa de cada lado, cruzando e “colando” com a ponta do do outro lado, como se estivesse costurando. Vá enrolando a massa sobre ela mesma, deixando a parte da costura para baixo, em contato com a bancada, para selar. Pode parecer difícil, mas o vídeo te ajudará a entender melhor como moldar o pão.Ao finalizar a moldagem, coloque a massa com a costura para cima, num banetton ou qualquer cesto forrado com guardanapo e polvilhado com farinha de arroz. Você pode usar um escorredor de macarrão, bowl de vidro ou alumínio, cesto de vime… vale tudo!).
Passo 7 – Segunda fermentação
Deixe a massa descansar para segunda fermentação. Em temperatura ambiente, deixe descansar por 3 horas. Na geladeira, para fermentação mais lenta, cubra com plástico (para não ressecar) e deixe a massa na parte menos fria da geladeira de 12 a 24 horas.
Passo 8 – Assar
O pão deve crescer um pouco durante a segunda fermentação, mas não deixe dobrar de tamanho. O pão deve ter fôlego para crescer no forno, o que chamamos de “salto de forno”. Se achar que depois das 12 ou 24hs na geladeira sua massa não cresceu nada, deixe um tempo em temperatura ambiente para que a massa se desenvolva um pouco.
Pré-aqueça o forno em 250 graus por 30 minutos e coloque a panela com tampa para esquentar. Use um timer (tem no seu celular!) para não perder a hora.
Enquanto a panela aquece, tire a massa da geladeira, passe um pouco de farinha de trigo sobre ela e faça o corte e a decoração que desejar. Essa é uma das partes mais divertidas do processo.
Passado os 30 minutos, tire a panela do forno, polvilhe farinha de arroz ou use papel Dover para o pão não grudar (é melhor que papel manteiga!).
Coloque o pão na panela, tampe, mas cuidado para não se queimar. Lembre-se, está MUITO quente. Você pode borrifar água na tampa quente, logo antes de fechar a panela, para formar o vapor que ajudará a manter a casca úmida enquanto o pão assa bem, de dentro pra fora.
Coloque a panela tampada no forno e deixe assar por 30 minutos a 250 graus. Lembre-se de usar o timer, uma santa ajuda. Depois, tire a tampa e veja como ficou seu pão.
Reduza a 220 graus e deixe assar por mais 20 minutos, sem a tampa. Reduza a 180 e deixe assar por mais 10 minutos, para deixar o miolo mais seco, reduzindo o excesso de umidade da massa. Nos minutos finais, acenda a grelha superior (se seu forno tiver) para ajudar a deixá-lo mais corado sem queimar a parte de baixo.
O tempo de cocção do pão pode variar de forno para forno. Fique de olho, sempre!
Passo 9 – Esperar
Depois de assado, tire o pão da panela e deixe esfriar totalmente sobre uma grelha (pode ser na grelha do fogão), deixando o ar passar por cima e por baixo do pão, para que a casca de baixo não fique úmida demais por conta do calor. Esse tempo é importante para que o pão termine a cocção, mesmo fora do forno.
RESUMO DA ÓPERA
- Autólise na geladeira por 1 hora
- Sovar a massa por 10 a 15 minutos
- Dobras a cada meia hora, por 2 horas
- Descanso de 2 horas (primeira fermentação)
- Pré-moldagem
- Descanso de 30 minutos
- Enriquecer a massa com pedaços de nozes
- Moldagem final
- Segunda fermentação em temperatura ambiente por 3 horas ou na geladeira de 12 a 24 horas
- Pré-aquecer forno e panela com tampa por 30 minutos
- Assar a 250 graus por 30 minutos
- Tirar a tampa e continuar a assar a 220 graus por 20 minutos
- Finalizar a 180 graus por 10 minutos (ligando grelha superior nos últimos minutos para dourar)
- Esperar esfriar
- Comer
Seja feliz, faça pão.
por Guilherme Leme | 04/06/2018 | Todos os posts |
Quando comecei a fazer pães, a dedicar-me em conhecer melhor o processo da panificação artesanal e a me aventurar em criar meu primeiro fermento natural, fui buscar inspiração nas redes sociais, atrás de pessoas que compartilham da mesma paixão. Encontrei no Instagram centenas de perfis – e também hashtags para seguir – com fotos e vídeos lindos revelando a beleza dos mais variados tipos de pão, de sua casca corada e crocante, dos alvéolos do miolo, das técnicas diversas, do fermento forte crescendo e vazando do recipiente, dos cortes criativos e inspiradores…
Para quem é fã, como eu, impossível escolher apenas alguns para seguir. Além dos muitos perfis, comecei a seguir também algumas hashtags, para acompanhar em tempo real o que outros fanáticos por pães artesanais estão aprontando por aí.
No meu feed do Instagram vejo pães sendo feitos pelo mundo todo. Técnicas diferentes, desenhos diferentes, idiomas diferentes que só reforçam que o pão é universal. E com pequenas mudanças aqui e ali, a receita é sempre a mesma.
Listei alguns perfis que mais gosto de seguir e interagir, de padeiros amadores e profissionais, daqui e de fora. Aliás, não deixe de seguir meu perfil @paonapanela e acompanhar as aventuras desse padeiro amador de fim de semana.
* * *
@brooklynsourdough
Erin Slonaker
@breadbakersguild
The Bread Bakers Guild
@trevorjaywilson
Trevor Jay Wilson
@danlarn
Daniel Larsson
@maurizio
Maurizio, criador do “The Perfect Loaf”
@alinegalle
Aline Galle
@padocadoalex
Padoca do Alex
@luizamericofcamargo
Luiz Americo Camargo, autor de “Pão Nosso”
@ilpanificiobrutto
Matteo
@pedrocalvo
Pedro Calvo
@breadjourney
Anna Gabur
@theslowbakery
The Slow Bakery, padaria artesanal de Botafogo, no Rio de Janeiro
@paonapanela
Guilherme Leme (eu, claro!)
por Guilherme Leme | 24/05/2018 | Receitas, Todos os posts |
Além do pão italiano, que já é um sucesso lá em casa, outra receita que tenho feito repetidas vezes, experimentando algumas variações, é o “Pão de Hokkaido com método Tangzhong”. Parece complicado, né? Mas imagine um pão de leite, muito macio, com sabor adocicado e levemente azedo pela fermentação natural… Uma maravilha que aprendi com a Aline Galle e os amigos do grupo “Levain”, no Facebook.
Você pode experimentar fazê-lo com ou sem recheio, em diferentes formatos. O resultado será sempre um pão saboroso, fresquinho e macio por dias.
Mas afinal, o que é o Tangzhong? Esse método asiático, também conhecido como “Water Roux Method”, é uma espécie de mingau mais grosso, feito de farinha e água, que depois será adicionado à massa. Ele é o responsável por deixar o pão artesanal macio por mais tempo.
Como fazer o Tangzhong?
Numa panela, adicione 50g de farinha de trigo e 250ml de água e misture bem, em fogo baixo, até o mingau engrossar, sem deixar ferver. Depois de pronto, deixe esfriar completamente e incorpore à receita do Pão Hokkaido (ou em qualquer receita de pão!). O Tanzhong funcionará como um emulsificante natural, conservando e deixando seu pão mais macio por mais tempo.
Receita do Pão de Leite de Hokkaido
(adaptação da receita compartilhada pela professora Aline Galle)
INGREDIENTES
- 3 xícaras de farinha de trigo
- 4 colheres (sopa) de açúcar
- 1 colher (sopa) de leite em pó
- 1 xícara de leite
- 1 ovo para a massa (e um outro ovo será usado para pincelar)
- 1 colher (chá) de sal
- 1/2 xícara de Tangzhong
- 4 colheres de sopa de manteiga em consistência pastosa (prefiro usar manteiga sem sal)
- 120g de levain (você pode usar 5g de fermento biológico seco)
PREPARO DA MASSA
Passo 1 – Misturar, sovar, dobrar
Misture todos os ingredientes até obter uma massa uniforme. Sove por 10 a 15 minutos, à mão ou com ajuda de uma batedeira planetária com gancho, até obter o ponto de véu.
Deixe descansar por 30 minutos e comece a fazer dobras a cada meia hora, por 2 horas. Ao todo serão 4 dobras que farão o glúten se desenvolver melhor.
Após a última dobra, deixe a massa descansar por mais 30 minutos num recipiente coberto com filme-plástico ou toalha umedecida.
Passo 2 – Shape ou moldagem
Modele a massa do jeito que preferir e coloque numa forma untada com manteiga e farinha.
Passo 3 – Fermentar
Deixe a massa fermentar por 4 horas, dentro do seu forno convencional ou microondas, com a lâmpada acesa para ajudar seu levain a fazer a mágica acontecer. Vale até deixar a massa num cantinho, com luminária acesa, para aquecer um pouquinho mais sua massa.
Passo 4 – Finalizar
Depois do tempo de fermentação, pincele 1 ovo batido com um pouco de leite sobre a massa.
Passo 5 – Assar
Pré-aqueça o forno por 20 minutos, a 220º. Asse por 35 minutos ou até deixar a casca corada do jeito que você mais gosta.
Passo 6 – Esperar
Depois de assado, tire da forma e deixe descansar sobre uma grelha até esfriar completamente.
Agora chegou a hora de você experimentar essa receita, e também o método Tangzhong, e compartilhar nos comentários suas dicas e descobertas.
Seja feliz, faça pão.
por Guilherme Leme | 24/05/2018 | Receitas, Todos os posts |
Depois de fazer seu fermento natural (Levain), chegou a hora de testá-lo numa receita de pão caseiro. Hora de botar a mão na massa e fazer seu primeiro pão. O processo não é tão rápido, também requer tempo e paciência. O resultado será um pão delicioso, com casca crocante, miolo macio e cheio de alvéolos (aqueles buraquinhos lindos no pão) e um sabor azedinho, típico dos melhores pães rústicos.
Antes de começar a preparar a massa do pão, lembre-se de alimentar (ou refrescar) seu fermento natural. Costumo alimentá-lo duas vezes quando está com pouca atividade, usando a proporção 1-2-3 (que aprendi com os vídeos do Luiz América Camargo, autor do livro “Pão Nosso”). Para primeira alimentação, uso 25g de fermento, com 50g de água e 75g de farinha de trigo branca. Depois que duplicar de tamanho, alimento pela segunda vez, sem descartar o fermento, apenas adicionando mais 50g de água e 75g de farinha. Ele estará pronto para usar quando tiver duplicado de tamanho. Fique de olho!
Lembre-se de sempre deixar um pouco do seu levain para a próxima fornada. 25g a 50g é o suficiente para você guardar e refrescar quando for preparar sua próxima fornada.
Os ingredientes são todos calculados em porcentagem, tendo como 100% o total de farinha que você vai usar. Uma continha de regra de três resolver fácil essa questão, mas você também poderá usar a calculadora. Para facilitar, coloquei na receita as medidas que costumo usar para pães com 400, 500 e 700 gramas de farinha branca e 70% de hidratação (água gelada, sempre!).
Pode parecer estranho, mas a água é calculada em gramas, como todos os demais ingredientes, para simplificar a conta do padeiro. De qualquer forma, 1g de água equivale a 1ml de água. Ou seja, 50g de água é o mesmo que 50ml.
INGREDIENTES
Para o pão com 400g de farinha
- Farinha de trigo: 400g (100%)
- Água gelada: 280g (70% de hidratação)
- Levain: 140g (35%)
- Sal: 9g
Para o pão com 500g de farinha
- Farinha de trigo: 500g (100%)
- Água gelada: 350g (70% de hidratação)
- Levain: 175g (35%)
- Sal: 12g
Para o pão com 700g de farinha
- Farinha de trigo: 700g (100%)
- Água gelada: 490g (70% de hidratação)
- Levain: 245g (35%)
- Sal: 16g
PREPARO DA MASSA
Passo 1 – Autólise
Autólise é o método desenvolvido por Raymond Calvel, em 1974, em que água e farinha são misturadas e colocadas para repousar, iniciando o desenvolvimento da rede de glúten.
Misture bem a farinha e parte da água gelada (reserve 25 a 30g de água para a segunda hidratação da massa, durante a sova). Deixe a massa descansar por 1 hora, coberta por filme plástico ou toalha úmida, em temperatura ambiente de 25 a 27 graus. Se o dia estiver quente, deixe na geladeira. A massa deve estar fria para evitar que esquente durante a sova.
Passo 2 – Sovar
Depois do descanso, você perceberá que a massa está mais elástica, graças à ação do glúten.Chegou a hora de colocar a mão na massa. Essa etapa pode ser feita de duas formas: à mão ou com a santa ajuda de uma batedeira planetária com gancho. Dos dois jeitos dará certo.
Se escolher sovar à mão, não se preocupe em usar muita força. Existem algumas técnicas, como a “slap and fold”, que não exigem tanto músculo, apenas jeito e prática. Seus braços vão agradecer.
Acrescente o levain à massa, misture bem com as mãos e comece a bater a massa sobre a superfície em que está trabalhando e a dobrá-la sobre ela mesma, repetidas vezes, por 3 minutos. Comece a sentir sua massa, se está muito mole, talvez não precise acrescentar os restante da água gelada que você deixou reservada. Use apenas se sua farinha for forte ou se sua massa ainda estiver muito grudenta. Sove por mais 3 minutos e acrescente o sal. Misture bem a massa e sove por mais 4 minutos.
Se escolheu sovar com a ajuda da batedeira planetária, acrescente o levain e comece a incorporá-lo à massa na velocidade 2 (ou se sua batedeira aguentar o tranco, na velocidade 1) por 3 minutos. Acrescente a água, sove por mais 3 minutos na velocidade 2, tomando cuidado para não espirrar toda água pra fora do bowl. Acrescente o sal e bata a massa por mais 4 minutos, começando pela velocidade 3 até finalizar com a velocidade 4. Você deve começar a ouvir um barulho de “pneu furado” nos minutos finais, enquanto a massa bate nas laterais do bowl. Isso é um ótimo sinal!
O tempo total de sova pode variar de 10 a 15 minutos. Esse tempo deve variar de acordo com a temperatura do ambiente, quantidade de água e qualidade da farinha. Você deve perceber que a massa atingiu um “ponto de véu” (quando você começa a esticar a massa com as mãos, ela não se rasga).
Depois de sovar, deixe a massa descansar num bowl, coberto pelo pano úmido ou filme plástico para não ressecar, por 2 horas. Sim, esse tempo é importante para fermentação. É dentro dessas 2 horas que faremos as dobras da massa.
Passo 3 – Dobras e primeira fermentação
Após os 30 minutos de descanso começaremos a fazer dobras na massa, de meia e meia hora, por 2 horas (total de 4 dobras). Essa etapa é importante no processo de fermentação pois, quando esticamos e dobramos a massa, estamos trabalhando a cadeia de glúten.
No bowl (você também pode usar uma caixa de plástico), pegue um lado da massa, estique e dobre sobre ela mesma, até alcançar o outro lado. Repita isso nos 3 outros lados. Deixe descansar por 30 minutos e volte a repetir o mesmo movimento, mais 3 vezes, com intervalos de 30 minutos. Depois da última dobra, deixe descansar por mais 30 minutos.
Se o dia estiver quente, costumo fazer a descanso entre as dobras na geladeira. A melhor temperatura para a massa é entre 25 e 27 graus. Mas você só conseguirá medir isso com um termômetro de cozinha. Faça testes para ver qual resultado é o melhor pra você.
Passo 4 – Pre-shape ou pré-moldagem
Depois das dobras e descansos, divida a massa, caso queira pães menores. Costumo separar em duas partes a massa com 700g de farinha. Os pães com 300 ou 500g de farinha não costumo dividir. Aliás, isso vai depender da panela em que você assará seu pão. Quanto maior a massa, maior precisará ser sua panela. A pré-moldagem é importante para que sua massa comece a se preparar para o formato final em que fará a segunda fermentação, antes de ir pra panela. Abra a massa delicadamente com as mãos e puxe as laterais para o centro, unindo e apertando as pontas. Vire o lado da “costura” para baixo, boleie a massa para deixá-la mais redonda e deixe descansar por mais 30 minutos.
Passo 5 – Shape ou moldagem final
Já decidiu qual formato quer fazer nesse pão? Redondo, retangular… são muitas as opções e jeitos de fazer. Abra a massa delicadamente sobre a bancada de trabalho e comece a puxar as laterais da massa e dobrar sobre ela mesma. Comece pela parte de baixo, puxando e esticando até o centro. Depois, puxe um pouco da massa nas laterais esquerda e direita e cruze a massa até alcançar o outro ponto. Algo parecido com “trocar fraldas” (rsss). Pegue a parte de cima, puxe e estique até alcançar a ponta de baixo. Depois, comece a puxar um pouco da massa de cada lado, cruzando e “colando” com a ponta do do outro lado, como se estivesse costurando. Vá enrolando a massa sobre ela mesma, deixando a parte da costura para baixo, em contato com a bancada, para selar. Pode parecer difícil, mas o vídeo te ajudará a entender melhor como moldar o pão.
Ao finalizar a moldagem, coloque a massa com a costura para cima, num banetton ou qualquer cesto forrado com guardanapo e polvilhado com farinha de arroz. Você pode usar um escorredor de macarrão, bowl de vidro ou alumínio, cesto de vime… vale tudo!).
Passo 6 – Segunda fermentação
Deixe a massa descansar para segunda fermentação. Em temperatura ambiente, deixe descansar por 3 horas. Na geladeira, para fermentação mais lenta, cubra com plástico (para não ressecar) e deixe a massa na parte menos fria da geladeira de 12 a 24 horas.
Passo 7 – Assar
O pão deve crescer um pouco durante a segunda fermentação, mas não deixe dobrar de tamanho. O pão deve ter fôlego para crescer no forno, o que chamamos de “salto de forno”.
Pré-aqueça o forno em 250 graus por 30 minutos e coloque a panela com tampa para esquentar. Use um timer (tem no seu celular!) para não perder a hora.
Enquanto a panela aquece, tire a massa da geladeira, passe um pouco de farinha de trigo sobre ela e faça o corte e a decoração que desejar. Essa é uma das partes mais divertidas do processo.
Passado os 30 minutos, tire a panela do forno, polvilhe farinha de arroz ou use papel Dover para o pão não grudar (é melhor que papel manteiga!).
Coloque o pão na panela, tampe, mas cuidado para não se queimar. Lembre-se, está MUITO quente. Você pode borrifar água na tampa quente, logo antes de fechar a panela, para formar o vapor que ajudará a manter a casca úmida enquanto o pão assa bem, de dentro pra fora.
Coloque a panela tampada no forno e deixe assar por 30 minutos a 250 graus. Lembre-se de usar o timer, uma santa ajuda. Depois, tire a tampa e veja como ficou seu pão.
Reduza a 220 graus e deixe assar por mais 20 minutos, sem a tampa. Reduza a 180 e deixe assar por mais 10 minutos, para deixar o miolo mais seco, reduzindo o excesso de umidade da massa. Nos minutos finais, acenda a grelha superior (se seu forno tiver) para ajudar a deixá-lo mais corado sem queimar a parte de baixo.
O tempo de cocção do pão pode variar de forno para forno. Fique de olho, sempre!
Passo 8 – Esperar
Depois de assado, tire o pão da panela e deixe esfriar totalmente sobre uma grelha (pode ser na grelha do fogão), deixando o ar passar por cima e por baixo do pão, para que a casca de baixo não fique úmida demais por conta do calor.
Esse tempo é importante para que o pão termine a cocção, mesmo fora do forno.
RESUMO DA ÓPERA
- Autólise na geladeira por 1 hora
- Sovar a massa por 10 a 15 minutos
- Dobras a cada meia hora, por 2 horas
- Pré-moldagem
- Descanso de 30 minutos
- Moldagem final
- Segunda fermentação em temperatura ambiente por 3 horas ou na geladeira de 12 a 24 horas
- Pré-aquecer forno e panela com tampa por 30 minutos
- Assar a 250 graus por 30 minutos
- Tirar a tampa e continuar a assar a 220 graus por 20 minutos
- Finalizar a 180 graus por 10 minutos (ligando grelha superior nos últimos minutos para dourar)
- Esperar esfriar
- Comer
Seja feliz, faça pão.
por Guilherme Leme | 23/05/2018 | Levain, Todos os posts |
Fazer o fermento natural em casa pode ser mais simples do que parece. Requer poucos ingredientes, mas principalmente tempo e paciência de quem quiser se aventurar. O resultado é surpreendente e vale todo esforço. Seu pão caseiro nunca mais será o mesmo, eu garanto!
O famoso levain (fermento em francês – pronuncia-se “le-van”), também conhecido como massa madre, massa lêveda, lievito naturale ou sourdough starter, é um fermento natural, feito a partir da mistura de água e farinha. Apenas.
Esse fermento natural e caseiro é formado por lactobacilos e leveduras selvagens – da família das Saccharomyces – presentes no ambiente e na farinha. Entre as principais características dos pães produzidos com fermento natural estão o seu sabor azedo (as leveduras alteram o ph da massa, deixando-a um pouco mais ácida) e o tempo maior de duração dos alimentos. O ácido lático, produzido pelos lactobacilos, impede que outros micro-organismos apareçam e se proliferem com facilidade.
Existem diferentes técnicas para produção do fermento natural. Algumas indicam a combinação de diferentes tipos de farinha, em diferentes proporções, além do uso de fruta (maçã, uva, abacaxi), mel ou iogurte, que ajudam as leveduras a turbinar a fermentação. Na maioria das vezes, o resultado é sempre o mesmo: um fermento capaz de produzir pães deliciosos, livre de aditivos químicos com nomes complicados, difíceis de pronunciar.
INGREDIENTES E MATERIAIS
Para fazer o seu levain você vai precisar de:
- Recipiente de vidro;
- Papel-toalha (filme-plástico ou pedaço de tecido) e elástico para cobrir;
- Farinha de trigo branca e/ou integral (se puder, dê preferência às farinhas orgânicas);
- Água filtrada e fervida previamente, em temperatura ambiente (a água, seja de filtro ou mineral, deve ser fervida para eliminar o excesso de cloro,
- metais e outras substâncias que podem alterar o crescimento do seu fermento. Dica especialíssima da Aline Galle);
- Colher ou garfo para misturar a massa;
- Balança digital de precisão (você poderá usar xícara como medida, mas o resultado pode variar. As balanças digitais são bem baratinhas, vale o investimento).
MODO DE PREPARO
1º dia ~
No recipiente de vidro, misture 50g (ou ⅓ de xícara de chá) de farinha de trigo branca com 50g (ou 50 ml) de água fervida em temperatura ambiente. Misture bem, por alguns minutos, para incorporar à massa algumas das leveduras presentes no ar. Cubra o recipiente com papel-toalha e elástico (para que o fermento possa respirar) e guarde em ambiente fresco e seco, de preferência sem muita luz e movimento (que tal no cantinho do armário?), até o dia seguinte.
2º dia ~
No segundo dia, retire o papel-toalha e veja se o seu fermento já tem algumas bolhas de ar na superfície. Se não tiver, não se preocupe. Elas devem aparecer em alguns dias. Se aparecer um pouco de líquido acumulado acima do fermento, não estranhe. Tire o líquido e continue o processo.
Descarte (sim, descarte!) a metade do fermento do recipiente e adicione mais 50g de farinha de trigo branca e 50g de água fervida em temperatura ambiente, misturando bem por alguns minutos. Cubra novamente o recipiente e volte a guardá-lo no mesmo local.
O fermento descartado pode ser jogado no lixo ou, se você estiver animado, pode colocar num outro recipiente e repetir o processo. Assim você poderá testar diferentes técnicas, quantidades diferentes de ingredientes e descobrir o que funciona melhor pra você. Mas é importante entender que descartar (ou desapegar) é um passo necessário ao criar e manter um fermento forte e ativo. Senão, haja farinha e espaço! Quando comecei, não consegui desapegar e acabei mantendo 3 recipientes de fermento. No final, todos deram o mesmo resultado. Dois estão na geladeira, hibernando (sim, é possível!), e apenas um segue em atividade, produzindo pães deliciosos.
3º dia ~
Muito ansioso? Quando chegou o terceiro dia eu já queria sair fazendo pão. Mas calma lá, lembre-se que o fermento natural requer tempo e paciência.
É possível que seu fermento esteja mais elástico e com algumas bolhas aparecendo. Isso é um ótimo sinal. Descarte (desapegue!) metade do fermento e adicione mais 50g de farinha branca e 50g de água, misturando bem por alguns minutos. Se o seu recipiente estiver muito sujo, com as laterais cheias de fermento ressecado, e isso estiver lhe incomodando, você pode trocar por outro recipiente limpo, sem medo de estragar tudo. Cubra novamente o recipiente e guarde novamente.
4º dia ~
Não desista! Estamos chegando lá…
Tenho certeza de que, neste quarto dia, seu fermento já está começando a “mostrar a que veio”, criando ainda mais expectativas pelos pães que você vai fazer com ele, em breve.
Mais uma vez, descarte metade do fermento e adicione mais 50g de farinha de trigo e 50g de água. Se achar que o seu fermento não está com essa atividade toda, ao invés dos 50g de farinha branca, você poderá usar 25g de farinha branca e 25g de farinha integral. A farinha integral pode ajudar a turbinar suas leveduras. Misture, cubra e guarde como nos dias anteriores.
5º dia ~
Seu fermento deve estar mais forte no quinto dia. Começou a sentir um cheirinho azedo, típico do fermento de pão? É normal! Descarte metade do fermento e misture 50g de farinha branca (ou 25g de farinha branca e 25 de farinha integral) e 50g de água (um pouco menos que no dia anterior). Misture, cubra e guarde.
6º dia ~
Está vendo as bolhas? Seu fermento está sorrindo pra você. Você deve sentir o cheiro azedo mais intenso. Acredite, você está no caminho certo!
No sexto dia, descarte metade do fermento, adicione mais 50g de farinha e 50g de água. Se achar que seu fermento está muito líquido, você pode reduzir um pouco da água, sem mexer na quantidade de farinha. O fermento deve ficar mais firme, dessa forma. Misture bem os ingredientes, troque por um recipiente limpo, se preferir, e faça uma marcação no vidro indicando a altura do seu fermento. Cubra e guarde por mais 24 horas.
7º ao 10º dia ~ Repita nos dias 7, 8, 9 e 10 esse processo.
Observe a altura que o seu fermento alcançou depois do descanso. Nessa fase final (oba!) ele deve duplicar de tamanho, em relação à marcação feita no dia anterior. Se não crescer tudo isso, aguarde o decorrer desses três dias.
É hora de começar a usar a proporção 1-2-3 para deixar seu fermento natural mais forte. Use apenas 25g do seu fermento, essa será sua base de cálculo (25×1). Adicione 50g de água (25×2) e 75g de farinha de trigo (25×3). Se você usar 50g de fermento, a proporção será 50-100-150. Continha de padaria, simples assim.
Se o seu fermento ainda não duplicou de tamanho, agora vai! E isso é sinal de que ele está ficando pronto. Ao mexer com garfo ou colher, você verá que o fermento formou uma trama ou rede forte. Glúten e leveduras entrando em ação. <3
Repita o processo por mais dois ou dias, reservando 25g e adicionando 50g de água e 75 de farinha. Seu fermento deve começar a dobrar de tamanho em pouco tempo, indicando que está forte e pronto para ser usado. Quando perceber que ele alcançou esse volume em pelo menos 4 ou 5 horas, chegou o momento de fazer seu primeiro pão.
Ah, não se assuste se ele crescer demais e derramar. Quanto mais forte seu fermento estiver, mas rebelde ele será!
Depois de pronto, você poderá manter seu fermento natural na geladeira ou no armário, em temperatura ambiente, variando o intervalo de tempo em que seu levain precisará ser alimentado (ou refrescado) para continuar ativo e para você preparar sua próxima fornada.
Quer tentar outras técnicas? A Neide Rigo, nutricionista e colunista do caderno “Paladar” de O Estado de S. Paulo, explica passo-a-passo sua técnica de levain. Luiz Américo Camargo, jornalista, crítico gastronômico e autor do livro “Pão Nosso”, apresenta uma série de vídeoaulas com dicas para fazer ser fermento natural.
Dúvidas, sugestões? Compartilhe nos comentários.