Como fazer o levain, fermento natural para pães

Fazer o fermento natural em casa pode ser mais simples do que parece. Requer poucos ingredientes, mas principalmente tempo e paciência de quem quiser se aventurar. O resultado é surpreendente e vale todo esforço. Seu pão caseiro nunca mais será o mesmo, eu garanto!

Levain, fermento natural para pães

O famoso levain (fermento em francês – pronuncia-se “le-van”), também conhecido como massa madre, massa lêveda, lievito naturale ou sourdough starter, é um fermento natural, feito a partir da mistura de água e farinha. Apenas.

Levain, fermento natural para pãesEsse fermento natural e caseiro é formado por lactobacilos e leveduras selvagens – da família das Saccharomyces – presentes no ambiente e na farinha. Entre as principais características dos pães produzidos com fermento natural estão o seu sabor azedo (as leveduras alteram o ph da massa, deixando-a um pouco mais ácida) e o tempo maior de duração dos alimentos. O ácido lático, produzido pelos lactobacilos, impede que outros micro-organismos apareçam e se proliferem com facilidade.

Existem diferentes técnicas para produção do fermento natural. Algumas indicam a combinação de diferentes tipos de farinha, em diferentes proporções, além do uso de fruta (maçã, uva, abacaxi), mel ou iogurte, que ajudam as leveduras a turbinar a fermentação. Na maioria das vezes, o resultado é sempre o mesmo: um fermento capaz de produzir pães deliciosos, livre de aditivos químicos com nomes complicados, difíceis de pronunciar.

INGREDIENTES E MATERIAIS

Ingredientes e materiais para o fermento natural

Para fazer o seu levain você vai precisar de:

  • Recipiente de vidro;
  • Papel-toalha (filme-plástico ou pedaço de tecido) e elástico para cobrir;
  • Farinha de trigo branca e/ou integral (se puder, dê preferência às farinhas orgânicas);
  • Água filtrada e fervida previamente, em temperatura ambiente (a água, seja de filtro ou mineral, deve ser fervida para eliminar o excesso de cloro,
  • metais e outras substâncias que podem alterar o crescimento do seu fermento. Dica especialíssima da Aline Galle);
  • Colher ou garfo para misturar a massa;
  • Balança digital de precisão (você poderá usar xícara como medida, mas o resultado pode variar. As balanças digitais são bem baratinhas, vale o investimento).

 

MODO DE PREPARO

Levain - Dia 1

1º dia  ~
No recipiente de vidro, misture 50g (ou ⅓ de xícara de chá) de farinha de trigo branca com 50g (ou 50 ml) de água fervida em temperatura ambiente. Misture bem, por alguns minutos, para incorporar à massa algumas das leveduras presentes no ar. Cubra o recipiente com papel-toalha e elástico (para que o fermento possa respirar) e guarde em ambiente fresco e seco, de preferência sem muita luz e movimento (que tal no cantinho do armário?), até o dia seguinte.

2º dia ~
Levain - Dia 2No segundo dia, retire o papel-toalha e veja se o seu fermento já tem algumas bolhas de ar na superfície. Se não tiver, não se preocupe. Elas devem aparecer em alguns dias. Se aparecer um pouco de líquido acumulado acima do fermento, não estranhe. Tire o líquido e continue o processo.
Descarte (sim, descarte!) a metade do fermento do recipiente e adicione mais 50g de farinha de trigo branca e 50g de água fervida em temperatura ambiente, misturando bem por alguns minutos. Cubra novamente o recipiente e volte a guardá-lo no mesmo local.

O fermento descartado pode ser jogado no lixo ou, se você estiver animado, pode colocar num outro recipiente e repetir o processo. Assim você poderá testar diferentes técnicas, quantidades diferentes de ingredientes e descobrir o que funciona melhor pra você. Mas é importante entender que descartar (ou desapegar) é um passo necessário ao criar e manter um fermento forte e ativo. Senão, haja farinha e espaço! Quando comecei, não consegui desapegar e acabei mantendo 3 recipientes de fermento. No final, todos deram o mesmo resultado. Dois estão na geladeira, hibernando (sim, é possível!), e apenas um segue em atividade, produzindo pães deliciosos.

Levain - Dia 3

3º dia  ~
Muito ansioso? Quando chegou o terceiro dia eu já queria sair fazendo pão. Mas calma lá, lembre-se que o fermento natural requer tempo e paciência.
É possível que seu fermento esteja mais elástico e com algumas bolhas aparecendo. Isso é um ótimo sinal. Descarte (desapegue!) metade do fermento e adicione mais 50g de farinha branca e 50g de água, misturando bem por alguns minutos. Se o seu recipiente estiver muito sujo, com as laterais cheias de fermento ressecado, e isso estiver lhe incomodando, você pode trocar por outro recipiente limpo, sem medo de estragar tudo. Cubra novamente o recipiente e guarde novamente.

4º dia  ~
Não desista! Estamos chegando lá…
Tenho certeza de que, neste quarto dia, seu fermento já está começando a “mostrar a que veio”, criando ainda mais expectativas pelos pães que você vai fazer com ele, em breve.
Mais uma vez, descarte metade do fermento e adicione mais 50g de farinha de trigo e 50g de água. Se achar que o seu fermento não está com essa atividade toda, ao invés dos 50g de farinha branca, você poderá usar 25g de farinha branca e 25g de farinha integral. A farinha integral pode ajudar a turbinar suas leveduras. Misture, cubra e guarde como nos dias anteriores.

Levain - Dia 4

5º dia  ~
Levain - Dia 5Seu fermento deve estar mais forte no quinto dia. Começou a sentir um cheirinho azedo, típico do fermento de pão? É normal! Descarte metade do fermento e misture 50g de farinha branca (ou 25g de farinha branca e 25 de farinha integral) e 50g de água (um pouco menos que no dia anterior). Misture, cubra e guarde.

6º dia  ~
Está vendo as bolhas? Seu fermento está sorrindo pra você. Você deve sentir o cheiro azedo mais intenso. Acredite, você está no caminho certo!
No sexto dia, descarte metade do fermento, adicione mais 50g de farinha e 50g de água. Se achar que seu fermento está muito líquido, você pode reduzir um pouco da água, sem mexer na quantidade de farinha. O fermento deve ficar mais firme, dessa forma. Misture bem os ingredientes, troque por um recipiente limpo, se preferir, e faça uma marcação no vidro indicando a altura do seu fermento. Cubra e guarde por mais 24 horas.

7º ao 10º dia  ~ Repita nos dias 7, 8, 9 e 10 esse processo. Levain, o fermento especial
Observe a altura que o seu fermento alcançou depois do descanso. Nessa fase final (oba!) ele deve duplicar de tamanho, em relação à marcação feita no dia anterior. Se não crescer tudo isso, aguarde o decorrer desses três dias.
É hora de começar a usar a proporção 1-2-3 para deixar seu fermento natural mais forte. Use apenas 25g do seu fermento, essa será sua base de cálculo (25×1). Adicione 50g de água (25×2) e 75g de farinha de trigo (25×3). Se você usar 50g de fermento, a proporção será 50-100-150. Continha de padaria, simples assim.
Se o seu fermento ainda não duplicou de tamanho, agora vai! E isso é sinal de que ele está ficando pronto. Ao mexer com garfo ou colher, você verá que o fermento formou uma trama ou rede forte. Glúten e leveduras entrando em ação. <3

Repita o processo por mais dois ou dias, reservando 25g e adicionando 50g de água e 75 de farinha. Seu fermento deve começar a dobrar de tamanho em pouco tempo, indicando que está forte e pronto para ser usado. Quando perceber que ele alcançou esse volume em pelo menos 4 ou 5 horas, chegou o momento de fazer seu primeiro pão.

Ah, não se assuste se ele crescer demais e derramar. Quanto mais forte seu fermento estiver, mas rebelde ele será!

Depois de pronto, você poderá manter seu fermento natural na geladeira ou no armário, em temperatura ambiente, variando o intervalo de tempo em que seu levain precisará ser alimentado (ou refrescado) para continuar ativo e para você preparar sua próxima fornada.

Quer tentar outras técnicas? A Neide Rigo, nutricionista e colunista do caderno “Paladar” de O Estado de S. Paulo, explica passo-a-passo sua técnica de levain. Luiz Américo Camargo, jornalista, crítico gastronômico e autor do livro “Pão Nosso”, apresenta uma série de vídeoaulas com dicas para fazer ser fermento natural.

Dúvidas, sugestões? Compartilhe nos comentários.

Meu primeiro pão italiano, receita da Rita Lobo

Já tinha feito alguns pães em casa, aqueles mais tradicionais, com leite e ovo, ou os de farinha integral, receitas da minha sogra. Mas o primeiro pão italiano que eu fiz eu aprendi com a Rita Lobo, assistindo ao episódio de seu programa no GNT, Cozinha Prática, em que ela ensinava a preparar um pão simples de fazer, sem sova, inspirado no pão italiano que ela comia na infância, na casa de seu avô. Um episódio cheio de histórias que me fez lembrar dos pães da minha infância, como os pães da Padaria de Pedra, de Mário Roque, os pães e biscoitos da padaria do Seu Lucianinho, a rosca de frutas cristalizadas de tia Nena para o Natal, a rosca de goiabada de minha avó Nestir (a goiabada era por minha causa!), o pão caseiro da casa da vó Nêta…

Foto: Panelinha

Esse saudosismo todo e também uma receita tão prática me inspiraram a colocar a mão na massa e fazer, em casa, meu primeiro pão artesanal. E deu certo. O resultado foi um pão simples de fazer, com uma textura deliciosa e aquele sabor de pão italiano, azedinho, que faz a gente salivar só de imaginar.

Foi o ponto de partida definitivo. Daí em diante fui testando, pesquisando, aprendendo, errando, testando mais um pouco, errando outro tanto (haja farinha!), até descobrir que para fazer pão é preciso entender e aceitar que cada etapa tem seu tempo certo, que deve ser respeitado, sem atropelos, sem atalhos para conseguir conquistar um resultado de encher os olhos.

O pão não tem pressa, ele demanda tempo e paciência. Garanto que vale a pena cada minuto, cada fatia, cada alvéolo e casca crocante. Mais do que sabor, a sensação de que você está fazendo tanta coisa, com tão pouco: apenas farinha, água, sal, fermento e, principalmente, persistência.

Meu primeiro pão italiano, nem tão bonito assim...

Meu primeiro pão italiano, nem tão bonito assim…

Repetindo a receita do pão italiano algumas vezes veio a ideia de experimentar outras receitas, como o pão integral com nozes, delicioso, que ela nos apresentou num outro episódio. Fazer pão, pesquisar receitas, entender a função de cada etapa no processo, passou a fazer parte não só dos meus fins de semana, mas também do meu dia a dia.

Daí a querer desbravar o universo da fermentação natural foi um pulo. Diversos métodos, um grupo maravilhoso no Facebook, o “Levain”, cheio de pessoas generosas e dispostas a compartilhar fotos, receitas e dicas de como fazer seu pão dar certo. Não posso deixar de agradecer a Aline Galle, administradora do grupo, a quem chamo de professora, tão disponível e interessada em ajudar. Um prato cheio para este padeiro amador de fim de semana. Descobri, com a ajuda dos demais participantes, a maravilha de fazer meu próprio pão artesanal de fermentação natural. Aprendi a alimentar o fermento, a hidratar a massa, a sovar, a dobrar, a pré-moldar, a moldar, a criar desenhos incríveis sobre a massa e, finalmente, a assar. Cada etapa tão importante e fundamental para a próxima, no processo.

O Pão na Panela é resultado da descoberta do prazer de fazer pães artesanais em casa, de cultivar meu próprio fermento natural, o Levain, de sair por aí descobrindo novas farinhas para testar, novos métodos para experimentar, novas ferramentas, novos sabores para provar.

Seja bem-vindo ao Pão na Panela. Aproveite as dicas, as receitas de tanta gente talentosa que estou testando em casa e compartilhe seu conhecimento. Seja generoso, faça pão!

Guilherme

 

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